quarta-feira, 17 de novembro de 2010

El Superclássico: Boca Juniors vs. River Plate

Ontem foi dia de Superclássico em Buenos Aires. River e Boca vão mal no Campeonato Argentino - nenhum deles briga pelo título. Os riverplatenses, inclusive, lutam contra um possível descenso. Mesmo assim, o jogo foi pegado, brigado, disputado... porque clássico é clássico! Ao fim da partida, no Monumental de Nuñez, o placar apontava 1 a 0 para o River Plate, que ganhou novo fôlego para fugir do rebaixamento. O gol que selou a vitória foi marcado por Maidana, ex-Boca Juniors.

O Clube Atlético River Plate nasceu da fusão entre os clubes Santa Rosa e La Rosales, oficializada no dia 25 de maio de 1901. Seu arquirrival é mais jovem: o Clube Atlético Boca Juniors foi fundado no dia 3 de abril de 1905, por jovens imigrantes italianos.

Boca e River, apesar de grandes rivais, têm muito em comum. Ambos possuem origens genovesas. Os torcedores do Boca são chamados de “Xeneizes”, palavra que significa genovês num dialeto local. Do outro lado, as cores do River Plate (branco, vermelho e preto) foram inspiradas na bandeira de Gênova.

Fundados no mesmo bairro da capital argentina Buenos Aires (La Boca), os dois clubes disputavam liderança e torcida na região. Ambos utilizavam uniformes das mesmas cores: branco, com uma listra vermelha vertical. Uma partida amistosa foi marcada pra decidir quem adotaria novos uniformes. O vencedor não trocaria seu equipamento, mas teria que se mudar para outro bairro. O River Plate bateu o Boca Juniors por 2 a 1 e teve de se mudar para Belgrano, na zona norte da cidade.

A mudança de bairro acirrou ainda mais a rivalidade entre os clubes. O norte da capital é uma região mais desenvolvida e nobre, enquanto que o sul, mais humilde, era onde moravam os operários. O clássico ganhou a dimensão de jogo do 'time do povo' contra o 'time da elite' e, por esse fato, o River Plate ganhou um apelido que possui até hoje: os milionários (los millonarios).

O primeiro clássico da era profissional

Em 20 de setembro de 1931, Boca e River fizeram o primeiro clássico desde que fora criada a liga profissional do futebol argentino. O histórico de grandes confusões começava aí. Logo aos 16 minutos de jogo, os millonarios abriram o placar com gol de Peucelle. Após dez minutos, foi assinalado um pênalti para o Boca Juniors. Os jogadores do River ficaram inconformados com a marcação do árbitro Juan Escola. Após defender a cobrança e o primeiro rebote, o goleiro Jorge Iribarren não conseguiu segurar a terceira tentativa, e o Boca empatou o Superclássico. As reclamações dos millonarios continuaram e os ânimos se acirraram.

Três jogadores do River foram expulsos e a confusão chegou às arquibancadas. Os atletas riverplatenses deixaram o gramado. Fora do campo, muitos torcedores saíram feridos. A decisão de quem seria o vencedor da partida foi parar nas mãos da AFA, que optou por dar os pontos da partida para o time de La Boca.

Episódios marcantes

Em 23 de junho de 1968, Boca e River protagonizaram uma das maiores tragédias da Argentina: um episódio conhecido como ‘La Puerta 12’. Após um empate sem gols no Monumental, a torcida boquense tentava deixar o estádio, mas o Portão nº 12 estava trancado. Ele não se abriu, mas a multidão que seguia logo atrás não sabia disso. Resultado: 71 torcedores morreram asfixiados e pisoteados no tumulto.

Em 23 de dezembro de 1928, o Boca Juniors aplicou a maior goleada da história do Superclássico. Os boquenses, que jogavam em casa, derrotaram o rival por 6 a 0. O ritmo dos xeneizes foi tão intenso que o capitão do River Plate teria pedido ao árbitro para terminar o jogo aos 38min da segunda etapa.

Em 9 de dezembro de 1962, Boca e River disputaram a taça de campeão nacional. O brasileiro Paulo Valentim colocou o Boca na frente, mas nos minutos finais da partida o árbitro Carlos Nai Foino assinalou pênalti para os millonarios. O também brasileiro Delém cobrou e, após se adiantar escandalosamente, o arqueiro Antonio Roma defendeu a penalidade. Sob protesto dos riverplatenses, o juizão justificou sua atitude citando uma frase épica, que anos mais tarde viria a se tornar uma máxima do futebol: “Pênalti bem batido é gol”.

O Superclássico de maior número e gols aconteceu em 15 de setembro de 1972, no estádio do Veléz Sarsfield. O River Plate vencia por 2 a 0 e dominava a partida. Se dando ao luxo de perder um pênalti, o Boca reagiu e virou para 4 a 2. Mas o River conseguiu empatar o jogo novamente e, no último minuto, Carlos Morete marcou o gol que daria a vitória ao time da faixa vermelha: 5 a 4.

Estádios

São dois verdadeiros caldeirões. O Estádio Alberto José Armando, mais conhecido como La Bombonera e capaz de comportar 50 mil pessoas, é a casa do Boca. O River Plate manda seus jogos no Monumental Antonio Vespucio Liberti, o Monumental de Nuñez. Com a maior capacidade do país (70 mil), o Monumental foi palco da final da Copa do Mundo de 1978, quando a Argentina derrotou a Holanda e conquistou seu primeiro título mundial.

Jogadores Brasileiros

Com 10 gols marcados em partidas oficiais, o ex-atacante brasileiro Paulo Valentim é o maior artilheiro do Boca Juniors em Superclássicos (o grande artilheiro do dérbi é Angel Labruna, ex-River, que anotou 16 gols em jogos oficiais). No Brasil, Paulo foi jogador de Atlético-MG, Botafogo e São Paulo. O ex-atleta chegou a se mudar para Buenos Aires depois de encerrar sua carreira. Lá ele morreu, em 1984.

O lateral Baiano e o atacante Iarley são exemplos recentes de brasileiros que atuaram no maior dérbi argentino. Iarley, hoje no Corinthians, marcou um dos gols da vitória boquense por 2 a 0, em 2003, no Monumental de Nuñez, que impulsionaria o time de La Boca para a conquista do Torneio Apertura.

Grandes jogadores do futebol argentino já disputaram o Superclássico por ambos os lados, como o matador Gabriel Batistuta, o ‘pássaro’ Claudio Caniggia, ‘el cabezón’ Oscar Ruggeri, o volante Sergio Berti, o folclórico goleiro Hugo Gatti, além de Jorge Higuaín, pai de Gonzalo Higuaín, atacante do Real Madrid revelado pelo River Plate.

Numa pesquisa realizada pelo jornal The Observer, em comemoração aos seus 50 anos de existência, foram chamados especialistas de diversas áreas esportivas para falarem sobre situações apaixonantes. Escolhido para falar sobre futebol, o editor da World Soccer Magazine citou o Superclássico como um dos 50 espetáculos esportivos que há de se ver antes de morrer.


(Por Diego Mendes e Diogo Rodrigues)

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