O ano era de 1900. A cidade, Campinas. Um grupo de estudantes do Colégio Culto à Ciência preenchia suas horas vagas jogando futebol no Bairro Ponte Preta – nome dado em função de uma ponte de madeira feita pela ferrovia, que para melhor conservação, fora pintada com piche. No dia 11 de agosto do mesmo ano, os estudantes que passavam a tarde jogando bola decidiram levar o hobby mais a sério. Foi fundada a Associação Atlética Ponte Preta.
E, assim como os estudantes do Colégio Culto à Ciência, eles decidiram, no dia 2 de abril de 1911, fundar um time profissional de futebol. O nome? Guarany Foot-Ball Club, em homenagem à obra mais conhecida do maestro Carlos Gomes, nome da praça onde os rapazes passavam a tarde se divertindo.
O primeiro confronto entre as duas equipes da cidade ocorreu no mesmo ano da fundação do Guarani, em 1911. Na ocasião, a Ponte venceu o jogo pelo placar magro de 1 a 0, gol de Lopes. Desde então, as duas equipes travam uma disputa acirrada para disputar a hegemonia na cidade de Campinas.
Nos quase 100 anos de rivalidade, ocorreram diversos fatos marcantes. A começar pelo jogo de 26 de setembro de 1948, primeiro clássico disputado no recém criado estádio Moisés Lucarelli, casa da Macaca. O jogo era válido pela segunda divisão do campeonato paulista, e o Bugre pregou uma peça no rival ao vencer a partida por 1 a 0. Entretanto, no primeiro dérbi após a inauguração do estádio do Guarani, o Brinco de Ouro da Princesa, em 1953, a Ponte deu o troco num estrondoso 3 a 0. Uma curiosidade: apenas 650 metros separam os estádios de Ponte e Guarani.
Forças dos anos 70
A década de 1970 foi inesquecível para Bugre e Macaca. Em 72, 73 e 74, o Guarani conseguiu o título de Campeão do Interior do Campeonato Paulista. No fim da década, já em 1978, o Bugre sagrou-se Campeão Brasileiro – e até hoje é o único clube do interior a conquistá-lo. Fez bonito também na Libertadores de 1979, quando terminou em terceiro lugar. Foi nessa época que o Guarani revelou o centroavante Careca para o mundo.
Já a Ponte Preta, segundo clube mais antigo do Brasil dentre os que ainda estão em atividade, não ganhou nenhum título na década. Aliás, o único campeonato que a Macaca conseguiu vencer em toda a sua história foi a Segunda Divisão Paulista, em 1969. Mas nada disso ofusca o brilho de um time que foi vice-campeão paulista em 70, 77 e 79. Dentre alguns grandes jogadores, podemos citar o zagueiro Oscar, e os atuais treinadores Marco Aurélio e Jair Picerni.
O sucesso de Guarani e Ponte Preta nos anos 70 era tanto que a Revista Placar de outubro de 1978 fez uma reportagem trazendo a “Seleção de Craques” dos arquirrivais. Dela faziam parte jogadores como o meia Zenon, o zagueiro Pollozi e o goleiro Carlos.
Sem dérbi em 2010
Como Guarani e Ponte Preta estão em divisões diferentes tanto no Campeonato Paulista (o Bugre jogou a Série A2 e a Macaca a Série A1) e no Campeonato Brasileiro (Guarani está na Série A; Ponte Preta, na Série B), o Derby Campineiro não foi – e nem será – disputado neste ano. E existe o risco de não acontecer também em 2011. Como o Guarani não conseguiu o acesso no Paulistão, o clássico de Campinas só deve ocorrer se a Ponte Preta garantir uma vaga na primeira divisão do nacional.
Os rivais não se enfrentam em Brasileirões da Série A desde 2004 (ano em que o Guarani foi rebaixado). Em 2006, a Ponte Preta foi rebaixada para a segunda divisão. Coincidentemente, o Guarani, que disputava a Série B, também sofreu o descenso. Em crise, o clube jogou a Série C em 2007 e 2008, e só regressou à Série B em 2009, ano em que, após cinco anos, Bugre e Macaca puderam realizar um clássico válido por uma competição nacional. O Guarani bateu a Ponte por 2 a 1 (veja os melhores lances), encerrrando um jejum de seis anos sem vitórias sobre seu maior rival. Essa foi a última partida entre os arquirrivais campineiros.
Números do confronto:
(por Lucas Gadbem e Diogo Rodrigues)